O que é feio e o que é belo

O que é feio e o que é belo

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Uma pergunta pode ter vários sentidos e intenções, digamos assim. E, num portal de notícias, cabe a pergunta: O que é feio e o que é belo?

Minha bondosa mãe, que se foi aos 94 anos de idade, sempre dizia: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.

Referia-se, da forma generosa como sempre agia, à mania insistente de pessoas em classificarem todo mundo com base em perspectivas ou conceitos pessoais de quem seja, ou não, belo.

Como saber o que é feio e o que é belo

O que é feio e o que é belo: uma jornada poética pelo espelho das percepções humanas

Vivemos cercados de julgamentos silenciosos, olhares apressados e conceitos que se moldam de acordo com os ventos da cultura, da mídia e da moda.

A questão sobre o que é feio e o que é belo carrega um peso curioso: ela não apenas nos provoca a refletir sobre o que valorizamos na aparência alheia, mas também nos força a olhar para dentro.

Quando minha mãe repetia, com aquele tom doce de quem já sabia muito da vida, quem ama o feio, bonito lhe parece, ela não estava apenas citando um ditado popular.

Estava, na verdade, revelando uma sabedoria profunda: a beleza — essa entidade tão disputada — não mora em revistas ou vitrines, mas nas nossas conexões, nos nossos afetos e no modo como enxergamos o mundo.

O que é feio e o que é belo, afinal, não são categorias estáticas, mas percepções em constante mutação, moldadas por afeto, memória e circunstância.

Quando o coração escolhe o que os olhos não explicam

Certa vez, observei uma criança que apontava para uma escultura abstrata em uma galeria de arte e dizia, com toda a certeza do mundo, que aquilo era “a coisa mais linda que já tinha visto”.

A mãe sorriu, talvez surpresa, talvez emocionada, mas não corrigiu. E por quê? Porque, naquele instante, algo tocante havia acontecido: a beleza tinha se revelado sem passar pelo filtro do julgamento adulto.

Para aquela criança, o emaranhado de formas, cores e sombras despertava encanto. E encanto, como todos sabemos, não precisa se justificar.

É curioso notar que, quanto mais envelhecemos, mais vamos sendo treinados para organizar o mundo em listas e categorias.

Aprendemos que há rostos bonitos e outros que “não seguem o padrão”. Que há roupas elegantes e outras que só funcionam para alguns. Que há corpos desejáveis e outros que precisam melhorar

Mas onde aprendemos isso? Quem nos ensinou a enrijecer tanto nossos critérios a ponto de rejeitarmos tudo o que escapa do ideal plastificado que nos vendem em propagandas e redes sociais?

A beleza que não está na superfície, mas no afeto

Minha mãe, com seus cabelos brancos e as mãos cálidas e trêmulas de quem viveu muito, nunca teve pressa em julgar ninguém.

Talvez porque soubesse, como poucos, que o tempo nos torna mais bonitos de dentro para fora.

Quando ela sorria, mesmo com as rugas e a voz baixa, havia algo nela que nos comovia.

Era como se o seu rosto dissesse, com delicadeza: a beleza não precisa gritar para ser percebida.

A verdade é que vivemos uma crise silenciosa do olhar.

A beleza virou um produto, com etiquetas e prateleiras bem definidas.

Influencers, filtros, algoritmos: tudo colabora para uma visão padronizada, e muitas vezes cruel, do que merece ou não ser admirado.

Mas, o que acontece quando nos libertamos disso? Quando escolhemos ver com o coração, e não com os olhos domesticados pelo consumo?

É aí que o mundo se transforma…

A amiga que tem um riso estridente, o vizinho de modos peculiares, o cachorro de três patas que abana o rabo com mais entusiasmo do que qualquer modelo de comercial — todos esses personagens ganham novas cores, novas formas.

Tornam-se belos, porque despertam em nós aquilo que nenhuma cirurgia plástica pode oferecer: ternura, identificação, humanidade.

Belo ou feio e bela ou feia

O feio que encanta e o belo que cansa

Quantas vezes você já se pegou hipnotizado por algo que, à primeira vista, parecia estranho?

Um quadro com um formato aparentemente torto da imagem, uma música desafinada, uma pessoa com trejeitos considerados fora do “normal”?

E quantas vezes a suposta perfeição já lhe pareceu entediante?

A verdade, difícil de aceitar, é que há beleza no imperfeito, no torto, no que escapa da moldura.

Na arte, no amor e na vida, o que realmente nos marca são as imperfeições.

A voz rouca de quem nos lê poesia, o andar desajeitado de quem chega atrasado com um sorriso sincero, o gesto tímido de quem quer ajudar, mas tem medo de atrapalhar.

São esses detalhes que nos tocam. Porque são reais. E o real, em sua autenticidade desajeitada, carrega mais beleza do que qualquer filtro de rede social.

Quando o espelho mente, o afeto revela

Você já olhou no espelho e se achou feio? Se sim, saiba que não está sozinho. A maioria de nós, em algum momento, já se sentiu aquém do que gostaria de ser.

O problema é que o espelho, muitas vezes, mente. Ele mostra a superfície, mas não a história. Não revela quantas vezes você foi forte quando tudo parecia desabar, quantas pessoas você tocou com um gesto, quantas vezes você sorriu mesmo quando queria chorar.

A beleza verdadeira não mora no reflexo, mas na vivência. No riso compartilhado, no abraço inesperado, na empatia silenciosa.

E essa beleza não desaparece com o tempo. Ao contrário, cresce. Amadurece. Ganha novas camadas, novos sentidos.

Redefinindo parâmetros

Redefinindo padrões com coragem e afeto

Hoje, mais do que nunca, precisamos de coragem para ver o belo onde ninguém está olhando.

Precisamos educar nossos olhos para enxergar além da embalagem. Precisamos ensinar nossas crianças que o diferente não é errado — é apenas outro modo de existir.

E, acima de tudo, precisamos aprender a olhar para nós mesmos com menos crítica e mais compaixão.

É possível, sim, construir um novo olhar sobre o mundo. Um olhar que abrace, que acolha, que reconheça a beleza do outro mesmo quando ela não se encaixa nas vitrines do Instagram.

Afinal, quem define o que é belo? Quem tem autoridade para dizer o que merece admiração? Só o coração. E o coração, quando está aberto, transforma tudo o que toca.

FAQ – Perguntas que não querem calar sobre o que é feio e o que é belo

Existe um padrão universal de beleza?
Não. Embora existam tendências culturais e históricas que valorizam certos traços, a percepção do belo varia conforme o tempo, a sociedade e a vivência individual. O que é considerado belo em uma cultura pode ser irrelevante ou até estranho em outra.

Por que achamos algumas pessoas bonitas e outras não?
A atração estética é uma mistura complexa de fatores biológicos, sociais e emocionais. Muitas vezes, o que achamos belo tem mais a ver com experiências pessoais e memórias afetivas do que com simetria facial ou medidas corporais.

A beleza interior realmente importa?
Sim, e de maneira crescente ao longo do tempo. A beleza interior — traduzida em empatia, generosidade, autenticidade e sensibilidade — é o que sustenta vínculos verdadeiros e duradouros. A aparência pode atrair, mas é a essência que mantém.

Como ensinar as crianças a valorizarem o que é diferente?
O melhor caminho é o exemplo. Quando os adultos demonstram respeito e admiração pelo diverso, as crianças aprendem a fazer o mesmo. Livros, filmes e histórias que mostram protagonistas fora dos padrões também ajudam muito nesse processo.

O que fazer quando me sinto feio ou inadequado?
É importante entender que essa sensação, embora comum, costuma ser reflexo de comparações injustas e padrões irreais. Buscar apoio, conversar com pessoas queridas e praticar o autoconhecimento são formas de resgatar a autoestima e a autocompaixão.

A beleza, quando verdadeira, escapa de qualquer régua ou moldura. Ela está na maneira como ouvimos alguém, na paciência com que cuidamos do outro, na coragem de sermos quem somos apesar dos julgamentos. Não se trata de negar o valor estético ou os prazeres visuais do mundo — trata-se de expandi-los, de reconhecê-los também nos gestos, nos silêncios, nos afetos.

Porque, no fim das contas, quem ama o feio, bonito lhe parece não é apenas um ditado; é uma chave secreta para enxergar a vida com olhos mais doces e alma mais inteira. E, talvez, essa seja a forma mais sublime de beleza que existe.

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